Comemorao litrgica: 04 de novembro - Tambm nesta data: So Claro e So Vital Ordens religiosas da Igreja (Busca) Verificar Ordem dos Escalabrianos
Mui devidamente So Carlos Borromeu contado entre os maiores santos, que glorificaram a Igreja Catlica no sculo XVI, defendendo-a vitoriosamente dos inimigos que contra ela se levantaram. No calendrio dos santos, figura Carlos com o nome dos ascendentes maternos. Os Borromeus, chamados antes Franchi, residiam antigamente na cidade de San Miriato. Depois se ramificaram e encontramos seus diversos representantes em Florena, Pdua e Milo. Gilberto, senhor de Avona, no lago Maggiore, Casou-se com Margherita, filha de Bernardino Medichino, de Milo, irm de Gian ngelo, mais tarde Papa Pio IV. Gilberto Borromeu teve trs filhos: Frederico, Carlos e Camila; esta se casou com Cesare Gonzaga de Guastalla, distinguindo-se por grande virtude. Frederico contraiu matrimnio com Virgnia della Rovere, filha do duque Urbino e morreu com 27 anos. Carlos, o segundo filho de Gilberto, nasceu aos 2 de outubro de 1538. Menino ainda, revelou timo talento e uma inteligncia rara. Ao lado destas qualidades, manifestou forte inclinao para a vida religiosa, pela piedade e o temor a Deus. Era seu prazer construir altares minsculos, diante dos quais, em presena dos irmos e companheiros de idade, imitava as funes sacerdotais que tinha observado na Igreja. Era mero brinquedo infantil. O amor orao e o aborrecimento aos divertimentos profanos, eram sinais mais positivos da vocao sacerdotal. Os pais, por seu turno, julgando garantido o futuro da famlia pelo primognito Frederico, animaram a Carlos naquele modo de pensar, e levaram-no a seguir a carreira sacerdotal. Com doze anos, recebeu a tonsura e o hbito talar. Pela renncia do tio Julio Csar, entrou no usufruto da abadia de So Graciano. Com este acontecimento formou-se o lao, que prendeu o jovem participao da vida pblica da Igreja. A administrao de emolumentos que lhe provinham do benefcio, Carlos considerava coisa sagrada. Bem eclesistico propriedade de Cristo e por ele dos pobres; a estes aproveita o usufruto. Foi esta a regra que a f lhe ditou, e que as tradies da famlia lhe confirmaram. No consentia que bens da abadia fossem aplicados a necessidades de famlia. Emprestando ao pai uma determinada quantia, exigia-lhe nota promissria. Tendo dezesseis anos, matriculou-se na Universidade de Pvia, para ouvir as prelees do clebre canonista Francisco Alciati. Cinco anos passou em Pvia, separado do mundo, entregue aos estudos e prtica de piedade. Este tempo coincide com a fundao de um patronato para estudantes, cuja organizao lhe foi possibilitada pela cesso que o tio materno, o cardeal de Mdici, lhe fizera de um benefcio eclesistico. Quando a notcia da morte do pai o chamou para casa, revelava em todo o modo de agir, o esprito e a tendncia de um homem predestinado para grandes coisas. Inacessvel s artes de seduo, com que um velho empregado da casa o procurava prender, julgou tambm ter a obrigao de reconduzir os monges da abadia ao fiel cumprimento dos deveres religiosos. Por meios hbeis, de bondade e energia, conseguiu este fim. At l, o moo de 22 anos no tinha idia do grande futuro que o esperava e do papel importantssimo que havIa de desenvolver na igreja Catlica. Gian ngelo, tio materno de Carlos, tinha sido eleito Papa, e sob o nome de Pio IV, tomado o governo da Igreja. Dos parentes que tinham ido a Roma apresentar felicitaes ao recm-eleito, fora Carlos a nica exceo e, como de supor, mui propositalmente. Pio IV mandou chamar o sobrinho metrpole da cristandade e deu-lhe as posies mais elevadas na hierarquia eclesistica. Sucessivamente foi nomeado no ano de 1560, protonatrio apostlico, referendrio e cardeal dicono da Igreja de So Vito. Oito dias depois desta nomeao, recebeu o arcebispado de Milo, com residncia obrigatria em Roma. Alm destas dignidades, recebeu outras geralmente consideradas anexas cardinalcia, como sejam: Legado apostlico de Bolonha, Romana e Ancona, protetor de Portugal, dos pases baixos, da Sua catlica, dos Franciscanos e Carmelitas e presidente da consulta, isto , do conselho deliberativo do Estado em negcios exteriores. Muitos, porm, acabaram descontentando-se por atriburem a acumulao de funes como favoritismo. Ningum, porm, estava mais descontente que o prprio privilegiado, no por ter se tornado objeto das queixas nesse sentido, mas principalmente por ter sido o primeiro que desejava uma reforma radical, na parte administrativa da Igreja. s queixas e reclamaes, seguiu-se um grande contentamento, porque Carlos revelou logo um tino administrativo extraordinrio, unido a um esprito de justia incomparvel. Inacessvel a adulao, de uma vigilncia prudente e rigorosa, ao mesmo tempo condescendente, deu Carlos, apesar de ainda muito jovem, o exemplo de um homem perfeito, cumpridor dos seus deveres. Alm disto, era pessoa de modos delicados, de fino trato social, que com vantagem sabia impor-se na roda da alta sociedade romana. O jovem cardeal, fundou uma associao de sbios religiosos e profanos, que realizavam sesses no Vaticano. Nestas reunies, cada scio tinha ocasio de proferir suas idias, quer em forma de conferncias, discursos ou discusses. Versando, a princpio, sobre assuntos de toda a espcie, mais tarde as conferncias tiveram por objeto exclusivamente temas teolgicos. O patronato que havia fundado em Pvia, foi transformado em colgio para estudantes pobres. O ano de 1562 trouxe a Carlos a graa do sacerdcio. Morrera seu irmo Frederico, sem deixar filho varo. Os Parentes insistiram, ento, com todo o empenho, para que Carlos abandonasse a carreira eclesistica, e tomasse estado. O prprio Papa se fez intrprete do desejo da famlia. Por tudo acima que foi dito, no nos podemos admirar de ver que, a situao em que se achava as famlias dos Borromeus, nenhuma luta tivesse desencadeado no corao de Carlos. Para por de vez termo a todas as reclamaes dos parentes, fez-se ordenar e, depois do fato consumado, os surpreendeu com a notcia do seu sacerdcio. Ao Papa que no se conteve, e a Carlos externou o seu grande descontentamento, respondeu: Santo Padre, no vos queixeis do meu proceder. Uni-me esposa que muito amava e desejava com todo o ardor. A partir desse momento, se nota na vida de Carlos, pendncia decLarada para a vida asctica. O Jesuta Pe. Ribeira, seu confessor e diretor de conscincia, o introduziu cada vez mais na vida espiritual, em Deus escondida. No silncio da meditao, lanou Carlos planos grandiosos para a reorganizao da Igreja Catlica. Estes todos se concentraram na idia de concluir o Conclio de Trento. De fato, era o que a Igreja mais necessitava, como base e fundamento da renovao e consolidao da vida religiosa. Por toda a parte surgiram abusos, sintomas indubitveis de uma decadncia deplorvel e de uma perturbao bastante sria do regime eclesistico. O duque Alberto de Baviera, tinha arbitrariamente introduzido a comunho dos fiis sob ambas as espcies. O rei alemo Fernando, tinha publicado um catecismo de orientao contrria ao Conclio. Nas cabeas dos polticos franceses, doideava a idia de um conclio nacional. Na Polnia se realizou, de fato, um conclio nacional de todas as confisses. Na Inglaterra reinava Isabel, a qual, para legitimar sua sucesso, havia de celebrar a independncia da Igreja inglesa da de Roma. S a Espanha desejava a concluso do Conclio Tridentino. Carlos, sem cessar, chamava a ateno do velho tio para esta necessidade, reclamada por todos os amigos da Igreja. De fato, o Conclio se realizou, e no exageramos se apontamos Carlos como fora motriz daquela grandiosa atuao da vida catlica. Carlos quis ser o primeiro a executar as ordens da nova lei, ainda que por esta obedincia tivesse de deixar a posio, para ocupar outra inferior. J fazia dez anos que a diocese no tinha visto seno comissrios de Antstite. A autoridade do Vigrio Geral, no chegava para pr em execuo as determinaes do Conclio Tridentino, que com trao enrgico cortava abusos enraizados na vida do clero secular, os quais alegavam em seu favor o costume de muitos anos. Carlos visitou a diocese e sua entrada em Milo foi uma apoteose. Os retratos dos seus avoengos,que tinham sido colocados nas salas do palcio, mandou ele retira-los, e no lugar destes pr a imagem do glorioso antecessor e modelo, Santo Ambrsio. Um ms depois da chegada, convocou o primeiro conclio providencial, cujo assunto principal era a reforma da vida clerical, de acordo com as determinaes do Conclio Tridentino. O Conclio sofreu uma interrupo pela morte do Papa. Carlos, chamado a Roma, assitiu ao tio na hora da morte 91565). No conclave que se reuniu, por ocasio da eleio do novo Papa, Carlos tomou parte. O primeiro pedido que dirigiu a Pio V, foi de poder voltar para a diocese, pedido a que o Sumo Pontfice, se bem que com pesar, lhe acedeu. De volta para Milo, desenvolveu Carlos uma atividade grandiosa. Para este fim, organizou uma srie de conclios providenciais e diocesanos, escreveu uma excelente instruo para os confessores, e publicou as instituies e regras da sociedade de escolas da doutrina crist. Em segundo lugar, trabalhou para a criao de seminrios menores e maiores, e construiu em Milo, o Colgio Helveciano. Resistncia tenacssima e inesperada encontrou o arcebispo, quando estendeu a reforma s Ordens Religiosas. Os Cnegos de Santa Maria della Scala, apoiando-se em privilgios antigos, garantidos pelo rei da Espanha, que ao esmo tempo era duque de Milo, negaram ao arcebispo o direito de visita cannica, e levaram o atrevimento ao ponto de pronunciar a sentena de excomunho contra o prelado. A mesma humilhao veio-lhe dos Franciscanos e dos Humiliatas. A Ordem destes foi dissolvida e com este ato declarou-se por terminada a resistncia das Ordens. Em outras congregaes religiosas, o arcebispo achou os mais dedicados auxiliares, como por exemplo, nos Jesutas, nos Irmos e Irms de Escola, dos Teatinos e Capuchinhos. Uma organizao admirvel que o arcebispo criou entre o clero secular, foi a Congregao dos Oblatas, composta de sacerdotes seculares, que por nico voto, tinham de estar sempre disposio do Prelado, onde e quando de auxlio precisasse. As visitas pastorais do-nos uma idia bem clara do esprito apostlico de Carlos Borromeu. No lhe ra indiferente o modo como o clero cumpria o dever, e como o povo mostrava interesse em aceitar a doutrina crist e as determinaes da autoridade eclesistica. Freguesia no havia, por mais pobre, por mais inacessvel que fosse, que no lhe tivesse recebido a distino da visita. No meio das fadigas da viagem (muitas vezes ele mesmo carregava a bagagem), conservava sempre o bom humor. Com os pobres, partilhava o po dos pobres. Dias havia em que no tomava seno po e gua. De importncia histrica tornaram-se as suas visitas Sua, onde criou instituies catlicas de grande importncia. No s os catlicos, mas tambm os prprios protestantes, recebiam jubilosamente o santo bispo. Por intercesso de Carlos, a Sua catlica recebeu um Nncio Apostlico. Foi Carlos quem introduziu na Sua a Companhia de Jesus e a Ordem dos Capuchinhos, e defendeu os catlicos suos contra as inovaes do Protestantismo. Carlos sabia muito bem que a caridade abre os coraes tambm religio. Por isto foi que grande parte da receita pertencia aos pobres, reservando ele para si s o indispensvel. Heranas ou rendimentos que lhe vinham dos bens de famlia, distribua-os entre os desvalidos. Tudo isto no agenta comparao com as obras de caridade que o arcebispo praticou, quando em 1569-1570 a fome e uma epidemia, semelhante peste, invadiram cidade de Milo. No tendo mais do seu para dar, pedia em pessoa esmolas para os pobres e abria assim fontes de auxlio, que teriam ficado fechadas. Quando, porm, em 1576 a cidade foi visitada pela peste, e o povo abandonado pelos poderes pblicos, no tinha outro recurso seno o bispo; este, para no falar na ereo de hospitais e lazaretos que mantinha, visto que ningum se compadecia do povo, ainda procurava os pobres doentes de que ningum lembrava, consolava-os e dava-lhes os santos sacramentos. Tendo-se esgotado todas as fontes de recurso, Carlos lanou mo de tudo o que possua, para amenizar a triste sorte dos doentes. Mais de cem sacerdotes tinham pago com a vida, na sua dedicao e servio aos doentes. Deus conservava a vida do arcebispo, e este se aproveitou da ocasio para dizer duras verdades aos mpios e ricos esquecidos de Deus. A peste ocasionou a fundao de um grande asilo para pobres. Alm desta instituio, outros estabelecimentos de utilidade pblica, a So Carlos devem sua fundao, como por exemplo, o Instituto dos Nobres em Milo, a Pia Unio pela salvao de pessoas do sexo feminino periclitadas, e diversas associaes de beneficncia. So Carlos, escreveu ainda duas pastorais, uma intitulada Reminiscncias para o povo da cidade e do arcebispado de Milo, e instrues para todas as classes, para praticarem as virtudes da vida crist, e a outra: Reminiscncias dos dias dolorosos da peste. Quem diria que, um bispo to zeloso e to santo, pudesse ser alvo de acusaes, como se tivesse tendncias antipatriticas? Os primeiros que lhe atiraram pedras, foram aqueles elementos que mais se sentiram incomodados pela obra da reforma do prelado. Dos leigos, eram principalmente representantes da alta aristocracia, cuja vida estava em contradio com as leis da Igreja sobre o matrimnio. Dos clrigos, eram em primeiro lugar frades rebeldes que, intimados sujeitar-se reforma, se estribavam em direitos inatingveis e privilgios centenrios. Milo pertencia Espanha, sendo governado pelo duque de Milo, que era rei da Espanha. O primeiro governador, o duque Albuquerque, por ser admirador pessoal do venervel Bispo, conservou as boas relaes com a Cria. Seu sucessor, porm, Alosio Requesens, atendendo s reclamaes dos que se julgavam ofendidos em seus direitos, desrespeitou a jurisdio episcopal e respondeu sentena da excomunho com a ocupao militar do Castelo de Arona (propriedade dos Borromeus) e do palcio arquiepiscopal. No ano de 1579, uma deputao apresentou em Roma as seguintes queixas contra o arcebispo: de Carlos Borromeu ter proibido as danas e divertimentos pblicos nos domingos; a prolongao costumeira das folganas carnavalescas at depois do primeiro domingo da quaresma; de ter interdito a passagem pblica pelas igrejas, quando esta era facultada para encurtar o caminho; de na poca da peste ter usurpado direitos que no lhe competiam e procurado engordar o povo; e por ltimo, do rigor excessivo contra o clero. Gregrio XIII, como infundadas no s rejeitou as acusaes, mas ainda recebeu Carlos Borromeu em Roma, com as mais altas distines. Em resposta a este gesto do Papa, o governador de Milo, organizou no primeiro domingo da Quaresma de 1579, um indigno prstito, carnavalesco pelas ruas de Milo, precisamente hora da missa do arcebispo. O mesmo governador, que tanta guerra ao Prelado movera, e tantas hostilidades contra So Carlos estimulara, no leito de morte reconheceu o erro e teve o consolo da assistncia do santo bispo na hora da agonia. Seu sucessor, Carlos de Arago, duque de Terra Nova, viveu sempre em paz com a autoridade eclesistica. O arcebispo gozou deste perodo s dois anos. Quando em outubro de 1584, como era de costume, se retirara para fazer os exerccios espirituais, teve fortes acessos de febre, a que no ligava importncia e dizia: Um bom pastor de almas, deve saber suportar trs febres, antes de se meter na cama. Os acessos renovaram-se e consumiram as foras do arcebispo. Provido dos santos sacramentos, expirou aos 03 de novembro de 1584. Suas ltimas palavras foram: Eis Senhor, eu venho, vou j. So Carlos Borromeu tinha alcanado a idade de apenas 46 anos, e a sua morte foi muito pranteada. Para evitar uma inscrio pomposa na campa, tinha determinado no testamento que, no tmulo, lhe lessem as seguintes palavras: Carlos, Cardeal, com o ttulo de Santa Praxedes, arcebispo de Milo, que se recomenda orao fervorosa do clero, do povo e do sexo feminino piedoso, em vida escolheu este monumento para si. Paulo V, canonizou-o em 1610 e fixou-lhe a festa para o dia 04 de novembro. O Corpo do santo em boa conservao, repousa na cripta do duomo, de Milo. Reflexes So Carlos empregou todos os emolumentos do mnus episcopal pela glria de Deus e para benefcio dos pobres. Este trao caracterstico da sua vida, mereceu-lhe ainda mais a admirao e gratido dos homens, do que se tivesse despendido os bens com parntese amigos, em construes luxuosas, em festas e vaidades, como fizeram representantes do mesmo estado antes e depois, de cuja memria a histria guardou apenas os nomes. Que merecimento teria so Carlos, se tivesse imitado o exemplo de outros, que mau uso fizeram das riquezas? Para quantos a fortuna material tem sido a causadora da desgraa eterna? Diz So Leo: No s os bens espirituais, como tambm os materiais, vem de Deus, de cuja administrao pedir rigorosas contas. Os bens, tanto estes como aqueles, no so propriedades nossas, mas Deus no-los confia para que, distribuindo-os prudentemente, no nos sirvam de ocasio para pecar e de condenao eterna. * * * * * * * * *
Referncias bibliogrficas: 1. Na luz Perptua, 5. ed., Pe. Joo Batista Lehmann, Editora Lar Catlico - Juiz de Fora - Minas Gerais, 1959. 2. Orao das Horas - Editora Vozes, Paulinas, Paulus e Ave-Maria, 1996. |