So Clemente I, Papa e Mrtir

Comemorao litrgica: 23 de novembro.  Tambm nesta data: So Columbano, Abade

 

 

Pontificado - 92 a 101  d.C.

 

                                                So Clemente, natural de  Roma, era discpulo  de  So Pedro e So Paulo.  Acompanhando a  este  nas viagens evangelizadoras, com ele  dividiu as fadigas, sofrimentos e perseguies  da vida apostlica.  a  ele  que  o Apstolo dos Gentios se  refere, quando na  Epstola aos Filipenses (4,3) diz:  "Peo-vos que auxilieis aqueles tambm que, como Clemente e outros, comigo trabalharam, cujos nomes  esto inscritos no Livro da Vida".  Estas palavras lhe documentaram  a dedicao e f,  o zelo  pelas causas de Deus e  das  almas. Se a mansido e caridade lhe mereceram  o nome de clemente, foi sem dvida pela atividade apostlica, que So Pedro lhe conferiu a dignidade episcopal. 

                                                Os primeiros sucessores de So Pedro, na S apostlica e no martrio,  foram So Lino e  Anacleto (So Cleto). Na quase certeza  de perder a vida  por Jesus Cristo e a Igreja, So Clemente assumiu o governo da Barca de So Pedro em 92. Eram tempos cheios de  apreenses para a jovem Igreja.  A Autoridade  romana ameaava com uma nova perseguio e no seio da Igreja mesma  reinavam dissenes, que prometiam degenerar em cisma. Era principalmente a  Igreja dede Corinto  o teatro de  graves perturbaes. Os nimos estavam irritadssimos e tudo indicava a  iminncia de uma ciso, provocada - assim se  acreditava geralmente - pelas paixes que  predominavam numa eleio episcopal.  So Clemente dirigiu aos Corntios uma carta apostlica em que documenta  ao mesmo tempo grande  circunspeco, prudncia, caridade e firmeza. To boa aceitao teve  esta carta, que no s em Corinto, mas tambm em todas as Igrejas era  lida durante muitos anos,  juntamente com as  epstolas dos Apstolos. 

                                                Dividindo a cidade de Roma em sete distritos, determinou para  cada distrito um advogado, com a incumbncia  de ativar conscienciosamente tudo que se relacionava aos cristos, suas virtudes, os processos judicirios a que  haviam de responder, o modo como se haviam  perante a autoridade  perseguidora, declaraes pblicas que faziam, o martrio e  a morte. Estes protocolos, chamados  atos dos mrtires, eram lidos  nas reunies dos fiis. Ao zelo  apostlico  do Santo Papa abriram-se  as  portas do prprio palcio imperial. Domitila, irm do imperador Domiciano, cuja ferocidade contra os cristos era conhecida, se converteu Religio de  Jesus  Cristo. Ainda  mais:  exemplo foi de  todas as virtudes e  para os cristos perseguidos,  um anjo de caridade, naqueles tempos aflitivos. 

                                                O imperador Trajano, vendo na propagao da religio crist um perigo social e  religioso para o imprio e reconhecendo no Papa rival temvel, citou-o perante o tribunal e  com ameaas de morte exigiu-lhe a abjurao da  f e o culto dos deuses nacionais.  So Clemente no hesitou  nem um momento e  na presena da suprema  autoridade  romana, fez uma profisso de f  belssima, que no deixou o imperador em dvida sobre a improficuidade do seu tentmem. Aconteceu o que  era de esperar:   O Papa foi  condenado morte.  O Brevirio Romano,   diz que o santo Papa foi, com muitos cristos, desterrado para a pennsula da Crimia, onde haviam de  trabalhar nas pedreiras e minas. Se para Clemente era um consolo poder partilhar a  escravido com seus filhos em Cristo, estes mais facilmente  se  conformavam com a triste sorte, vendo junto de si o Pai querido, o representante  de Deus  na Terra.  

                                                O que mais atormentava  os pobres cristos, era a falta absoluta de  gua,  no lugar onde trabalhavam. Muito penoso era o transporte deste precioso lquido, que s se achava na distncia de  seis milhas. Clemente pediu a Deus que se compadecesse do povo, como se compadecera dos israelitas no deserto. Terminada a orao, viu no alto duma montanha um cordeirinho que,  com a  pata direita  levantada, parecia indicar um determinado lugar.  O santo Papa dirigiu-se  imediatamente ao lugar onde  lhe aparecera o cordeirinho e  com uma  enxada ps-se a cavar a terra. Qual no lhe foi a alegria, quando logo ao primeiro golpe, viu brotar gua, gua deliciosa e  to abundante que,  desde aquele  dia teve termo a aflio dos cristos.  Estes  milagre no s contentou a estes;  tambm os  pagos que,  vendo em Clemente um enviado do Cu, a ele  se dirigiram pedindo  fossem  aceitos como catecmenos. Assim  muitos idlatras se  tornaram adoradores de Jesus Cristo e os templos pagos, antes antros  do mais abjeto culto diablico, transformaram-se em  igrejas crists.  Este espetculo grandioso perante Anjos e  homens despertou naturalmente o dio nos coraes dos sacerdotes pagos, que se apressaram em denunciar Clemente. 

                                                A resposta imperial no se deixou esperar. O governador  Aufidiano, autorizado por Trajano a  pr um dique propaganda  crist, custasse o que custasse, condenou morte Clemente e  intimou os cristos a  que abandonassem a religio de Cristo. Algemado, foi  Clemente levado a um navio, que o transportou ao alto mar.  L chegado, puseram-lhe  uma ncora de  ferro ao pescoo e  precipitaram-no na gua.  Isto aconteceu  a  23 de novembro do seu ltimo ano apostlico.  Os cristos  consternados  pela perda do seu Pastor, pediram a Deus que no deixasse o corpo do mrtir entregue ao jogo das ondas, mas que restitusse ao carinho e venerao dos  filhos espirituais.  

                                                Aufidiano e  sua  gente  mal se tinham afastado, quando o mar espontaneamente, retrocedeu a  uma distncia de  trs milhas, at o lugar onde  tinha  sido mergulhado o corpo do santo Papa-Mrtir. O mais que aconteceu, foi de todo extraordinrio. Aos olhos pasmados  dos cristos apresentou-se  um pequeno templo de mrmore branco. Pressurosos correram para l e, chegando ao templo, nele encontraram o corpo de So Clemente, colocado num atade, tendo ao lado a ncora pesada. Quando se  dispuseram a retirar suas santas relquias, Deus manifestou sua vontade, que no o fizessem;  que o deixassem repousar  no mesmo lugar  e  que o mar, anualmente, durante sete  dias, franqueasse o acesso ao tmulo. Assim aconteceu.  As relquias de  So Clemente  ficaram no fundo do mar, guardadas  por santos Anjos, at o sculo IX, quando, sob o governo do Papa Nicolau I, os santos missionrios Cirilo e  Metdio as  trouxeram para Roma,  onde foram depositadas  na Igreja de So Clemente, onde se acham  at  agora.  

Reflexes:

Se queres  venerar  dignamente So Clemente,  procura  imitar-lhe  os belos exemplos  e  observar-lhe os sbios ensinamentos que depositou nos seus escritos. Os  trechos seguintes so tirados  de  sua epstola  aos Corntios:  "Abandonemos os cuidados vos e passageiros! Sigamos  a  regra gloriosa e venervel da nossa santa vocao!  Atendamos ao que   belo, agradvel diante do Senhor, que nos deu a vida!  Fixemos o olhar sobre o sangue de Cristo e  poderemos seu alto valor na apreciao de Deus;  pois este  sangue foi derramado pela salvao do mundo inteiro.  Os astros movem-se no espao por ordem de Deus  e  obedecem-lhe. Dia e noite  surgem no horizonte  e  seguem o curso, sem jamais  se  embaraarem  uns aos outros.  O sol, a lua, as estrelas, na mais  perfeita harmonia percorrem  seus crculos, sem ultrapassar a rbita. A terra  produz  alimento para o homem, para os  animais  e  os outros seres viventes, tudo em perfeita obedincia  ao Criador. As profundidades dos abismos e o interior do globo seguem-lhe as determinaes. As ondas do mar respeitam os limites que a vontade divina lhes traou. O vasto oceano,  ainda no atravessado por embarcao humana, os continentes alm  ainda recebem as ordens  do Senhor. As estaes, a primavera, o vero, o outono e o inverno seguem-se na maior regularidade. Os ventos  e as tempestades no se perturbam em suas funes. Fontes  inesgotveis,  criadas  para  nossa sade e nosso uso, fornecem as guas, para o sustento da vida  humana. Os animaizinhos quase  imperceptveis realizam  reunies na maior paz, na mais  perfeita ordem. Todas  estas coisas o grande  arquiteto e Senhor do Universo chamou-as existncia. A todos faz bem, principalmente a ns, que recorremos s suas misericrdias por Nosso  Senhor Jesus  Cristo, a quem sejam  dados  honra e  louvor  nos sculos dos sculos. 

Vossos  filhos devem  participar  da disciplina de Cristo; devem aprender quanto vale  perante Deus  o sentimento humilde, como apreciado o amor casto e como sublime  e belo o  temor de Deus, que santifica a todos os que andam em reta inteno. Ele o  perscrutador dos pensamentos e planos  ntimos. Seu sopro est em ns; ele o retira, quando  lhe apraz."

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Referncia bibliogrfica: Na luz Perptua,  5.  ed., Pe. Joo Batista Lehmann, Editora Lar Catlico - Juiz de Fora - Minas  Gerais,  1959.