Finados - Dia das Almas

Comemorao litrgica: 02 de novembroTambm nesta data: So Tobias, Santa Ppias e So Toms de Walen

    

O PURGATRIO

                                                 

                                                 O ms de novembro dedicado s Almas do Purgatrio. A doutrina da Igreja Catlica sobre o Purgatrio compreende trs pontos: 1  O Purgatrio existe; 2 Nele as almas sero purificadas; 3 Os fiis da Igreja militante, podem, pelas oraes e obras meritrias, aliviar as penas das almas do Purgatrio.

                                                 1.  O purgatrio existe deveras - Deus revelou esta verdade no Antigo Testamento. um pensamento santo e salutar orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados. (2  Macab.  12,  46). Destas palavras devemos deduzir que j no Antigo Testamento se acreditava num lugar expiatrio, em que as almas dos defuntos eram detidas, at que fossem absolvidas dos pecados.

                                                 Jesus Cristo fala de pecados que no sero perdoados nem aqui, nem no outro mundo. (Mt.  12,  13). Logo, para certos pecados, h possibilidade de serem perdoados ainda no outro mundo. O lugar onde estes pecados sero expiados, o Purgatrio.

                                                 A Igreja ensina, com toda a preciso, a existncia do Purgatrio. Assim, escreve So Gregrio Magno: Sei que alguns devem fazer penitncia ainda depois desta vida, nas chamas do Purgatrio.   Uma coisa esperar o perdo diz So Cipriano e outra entrar na eterna glria;  uma coisa ser metido no crcere e dele no sair, enquanto no for pago o ltimo ceitil, e  outra coisa receber imediatamente a recompensa da f e da virtude; uma coisa penar muito tempo e purificar-se nas chamas do Purgatrio e outra coisa ter removido todos os pecados, pelo martrio.

                                                 Os Conclios ecumnicos de Cartago, Lyon, Florena e Trento definiram bem claramente a f na existncia do Purgatrio. Nas antiqssimas oraes litrgicas, a Igreja pede a Deus que absterja as manchas que ainda aderirem s almas dos fiis defuntos que delas se compadea e lhes conceda o lugar da paz e da luz "que as tire das tristes moradas e as faa gozar da sorte dos justos.

                                                 Esta doutrina da Igreja est muito de acordo com a razo. Se certo que no cu entraro somente as almas purificadas; se certo que poucos homens na hora do trnsito esto isentos da mais leve culpa, certo tambm que, com pouqussimas excees, os homens ficariam sempre excludos do cu, se no houvesse na eternidade um lugar de expiao, salvo se Deus, na sua misericrdia, perdoasse sumariamente todos os pecados e as respectivas penas na hora da morte, o que no acontece. Na eternidade Deus dar a cada um a paga, segundo as suas obras. (Mt. 16, 27). Negar a existncia do Purgatrio equivaleria excluso do gnero humano quase inteiro da eterna bem-aventurana, o que seria contra a f e a razo.

                                                 2.   No Purgatrio sero purificadas as almas dos justos -  O Purgatrio um lugar, onde no prevalece a misericrdia, mas a justia divina. As penas das almas devem ser de natureza a satisfazerem plenamente justia divina. claro que devem estar em proposio exata com a gravidade da ofensa, que Deus pelo pecado sofreu. Quem poder aliviar a gravidade da ofensa, que uma pobre criatura se atreva a fazer ao Criador ? Terrvel cair nas mos de Deus vivo . (Hebr. 10,  31).

                                                 O Purgatrio um lugar de penitncia, que igual no tem aqui na terra. A razo clara. Toda a penitncia feita aqui, por mais rigorosa que seja, tem por fim preservar o homem da penitncia futura na eternidade. Se assim , a penitncia a fazer-se na eternidade deve ser extremamente dolorosa. Se os maiores Santos castigavam o corpo com tanto rigor; se os primeiros cristos prontamente tomavam sobre si as disciplinas mais duras e humilhantes, no era para outro fim, seno para deste modo se livrarem das penas temporais na eternidade. Se os rigores dos Santos, se as penitncias pblicas que estavam em uso no tempo da Igreja primitiva, no suportam comparao com as penitncias do Purgatrio, foroso concluir que estas devem ser mui dolorosas.

                                                 3.   Natureza das penas -  O Purgatrio um lugar de purificao, que assustaria, porm, os maiores penitentes, os mais dedicados amigos da Cruz. Por qu ? Porque a purificao realizada no Purgatrio inteiramente diferente daquela que Deus costuma aplicar nesta vida. A purificao feita aqui meritria, em ateno Paixo e Morte de Jesus Cristo.  A purificao, porm, no Purgatrio um sofrimento que no oferece o menor merecimento; so penas de que a alma, contra a vontade de Deus, se tornou merecedora pelos pecados. Davi pediu a Deus: Senhor, no me arguas em teu furor, nem me castigues na tua ira;  isto, segundo a explicao de Santo Agostinho, quer dizer: Assisti-me, meu Deus, para que no merea vossa ira, isto , as penas do purgatrio.

                                                 Quem so aquelas almas que penam no Purgatrio ?  Pela maioria no so nossas conhecidas, mas entre todas nenhuma h que nos seja estranha. Todas elas, sem exceo alguma, so unidas a ns pelo lao da graa santificante: so portanto nossas irms em Jesus Cristo. Como no negamos o nosso socorro ao nosso irmo grandemente necessitado, no devemos neg-lo s pobres almas, que sofrem incomparavelmente mais, sem a possibilidade de melhorar a sua sorte, ainda mais, quando temos em nossas mos meios poderosos para aliviar-lhes as dores. No haver entre as almas uma ou outra, que nos deva  interessar mais de perto ?   Descendo em esprito s trevas do Purgatrio, l no descobriremos talvez as almas de nossos pais, parentes, amigos e benfeitores ? A caridade, a gratido no exigem de ns, que lhes prestemos o nosso auxlio ? No tm elas direito nossa interveno, ainda mais quando as penas lhe foram causadas por pecados que cometeram talvez por nossa culpa ? 

                                                 natural e justo que devemos expanso nossa dor, quando um dos nossos queridos entes nos arrebatado pela morte; o verdadeiro amor, porm, exige de ns alguma coisa mais. Cumpre que unamos as nossas lgrimas ao sacrifcio de Jesus Cristo no Glgota; cumpre que a nossa dor seja uma dor ativa, como ativa foi tambm a dor que Jesus Cristo sentiu junto ao tmulo do amigo Lzaro. A nossa dor pela perda dos nossos pais, parentes e amigos no se deve limitar a manifestaes exteriores. Por mais ricas que sejam as coroas depositadas nos tmulos dos nossos mortos; por mais vistosos que se apresentem os monumentos que lhes erigimos sobre os restos mortais, no preservam o corpo da decomposio, nem defendem a alma contra os tormentos do Purgatrio. No querendo fazer-nos culpados de ingratido e inconscincia, mister que empreguemos os meios que a Igreja to generosamente nos oferece, como sejam: a recepo dos santos Sacramentos, em particular a SS. Eucaristia, o santo sacrifcio da Missa, obras de penitncia e caridade, as santas indulgncias, etc. Um Pai Nosso rezado com devoo e humildade pelas almas, vale mais que muitas coroas; uma santa Missa celebrada pelo descanso eterno de uma alma, aproveita-lhes infinitamente mais que um suntuoso monumento, porque a santa Missa o sacrifcio expiatrio por excelncia.

                                                 O esprito pago, que, com sua ostentao vaidosa e balofa, se infiltrou em todas as camadas da nossa sociedade, procura tambm se insinuar no santurio, o que em grande parte j conseguiu. Como so diferentes os enterros de hoje, daqueles que os primeiros cristos faziam nas catacumbas !  Naquele tempo havia muita devoo e pouca flor; hoje h pelo contrrio, uma imensidade de flores e coroas e pouca ou nenhuma devoo. Os primeiros cristos levavam os defuntos ao cemitrio, cantando salmos e recitando oraes; os cristos de hoje acompanham os enterros por simples formalidade, sem lhes vir a idia de rezar uma Ave Maria sequer pelo descanso do falecido; os primeiros cristos confiavam os defuntos com muito carinho terra, como uma semente preciosa da futura ressurreio gloriosa; os enterros de hoje so quase destitudos por completo de tudo que possa lembrar as verdades eternas.

                                                 Como bela a devoo s almas do Purgatrio! Agradvel a Deus, proveitosa s pobres almas, utilssima a ns mesmos. No fechemos o nosso ouvido aos gemidos dos nossos irmos, que padecem no Purgatrio. Eles levantam as mos para ns, suplicando o nosso auxlio. Talvez sejam nossos pais; um pai amoroso, que nos dedicava os seus cuidados, dia e noite;  talvez a me, que nos amava to ternamente; irmos, cuja morte tanto nos entristeceu;  filhos, que eram o encanto da nossa vida; o esposo, sempre to dedicado e fiel cumpridor dos deveres; a esposa, a fiel companheira, o anjo do lar. Todos sofrem, sofrem penas amargas, impossibilitados de melhorar a sorte. A ns se dirigem suplicantes:  Compadecei-vos de mim, ao menos vs, que sois meus amigos, porque a mo do Senhor me tocou . (Job.  19,  21).

Reflexes:

H pessoas que no temem o Purgatrio e tampouco cuidam de dar a Deus a necessria satisfao das suas culpas. Dou-me por muito satisfeito, assim dizem, se Deus no me condenar. Outros h que confiam nas oraes e sufrgios dos parentes e amigos ou nas santas Missas, para cuja celebrao providenciaram no testamento. Aqueles se convenam de que impunemente ningum ofende a Deus e que o pecado leve caminho seguro para culpas graves.  Os outros leiam e ponderem as seguintes palavras de Toms a Kempis: No te fies demais nos amigos e parentes e no proteles tua salvao para mais tarde; mais depressa que pensas, se esquecero de ti os homens. melhor providenciar em tempo e despachar j de antemo boas obras para a eternidade, do que confiar no auxlio de outros depois da morte. Se no providenciares em teu interesse quem o far por ti?.  S por estas palavras, no deveramos ns,  tomarmos conscincia quanto nossa responsabilidade em elevar diariamente nossas oraes e sacrifcios,  mandar celebrar missas pelo menos s almas dos nossos parentes e amigos que partiram para a eternidade? Aproveitemos o pouco tempo que nos resta para socorrer as almas do purgatrio, pois ns tambm precisaremos em breve desse precioso auxlio, especialmente da intercesso das almas que de l forem libertadas com a nossa ajuda.   

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************* Cu, Inferno e Purgatrio **********

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Referncia bibliogrfica: Na luz Perptua,  5.  ed., Pe. Joo Batista Lehmann, Editora Lar Catlico - Juiz de Fora - Minas  Gerais,  1959.