Comemorao litrgica: 01 de outubro. Tambm nesta data: So Verssimo e So Milor.
- Padroeira das Misses -
Se Deus d Igreja Santos e Santas, no menos verdade , que uma das primeiras condies de santidade , fora da graa de Deus, a santidade dos progenitores. justamente esta circunstncia particular que se observa em relao Santa Teresinha do Menino Jesus. Eram santos os pais. Lus Jos Estanislau Martin, aos vinte anos, teve ardente desejo de tomar o hbito de So Bernardo, mas, reconhecendo que os desgnios Da Divina Providncia eram outros, desistiu do plano. Zlia Guerin, jovem de muita piedade e carter enrgico e franco, aspirava a ser admitida entre as irms de So Vicente de Paulo, e para este fim solicitou entrada na Congregao das mesmas, em Alenon. As superioras reconheceram no ser esta a vontade de Deus e, sem hesitao, disseram-lhe sua opinio a este respeito. Zlia, resignando-se com esta deciso, repetia , muitas vezes no ntimo da alma esta prece: Meu Jesus, j que no sou digna de ser vossa esposa, como minha irm querida (**), abraarei o estado de matrimnio, para cumprir a vossa vontade santssima. Peo-vos, porm, encarecidamente, sejais servido concerder-me muitos filhos, e que todos vos sejam consagrados. Deus, em sua paternal bondade, reservava para esta alma predileta o virtuoso jovem j mencionado e, graas a circunstncias visivelmente providenciais, realizou-se o enlace matrimonial de ambos, aos 12 de julho de 1858, na Igreja de Nossa Senhora de Alenon. Houve Deus por bem aceitar com agrado a santa disposio do piedoso casal e deu-lhe nove filhos, que no santo batismo tiveram os seguintes nomes: Maria Lusa, Maria Paulina, Maria Lenia, Maria Helena (falecida aos cinco anos e meio de idade), Jos Maria, Maria Jos, Joo Batista, Maria Celina, Maria Melania Tereza (falecida trs meses depois do nascimento) e Maria Francisca Tereza. Depois do nascimento das quatro filhas mais velhas era ardente o desejo do piedoso casal de ter um filho, que futuramente servisse a Deus como missionrio, e nesta aspirao dirigiram-se confiadamente a So Jos. As oraes foram ouvidas e o corao dos pais encheu-se de doce jbilo, quando lhes nasceu o primeiro filho, a quem deram o nome de Jos Maria. Mas os pensamentos do Senhor no so os nossos, nem os seus caminhos so os nossos. Assim aconteceu que ao cabo de cinco meses apenas, o pequeno Jos trocasse este deserto pelos tabernculos do Senhor. Empenhados em alcanar do cu para sua famlia um sacerdote, um missionrio, os pais instaram novamente com ardentes splicas, e grande lhes foi a alegria quando um outro pequenino Jos veio tomar o lugar do irmozinho falecido. Nove meses se passaram e tambm esta florzinha se viu transplantada para os canteiros celestes. Desistiram ento de pedir aos cu outro missionrio. Contudo realizou-se-lhes plenamente o desejo na pessoa da ltima filha, de todas a mais abenoada e privilegiada, alma providencial, a quem Deus deu uma misso grandiosa, verdadeiramente divina. Nos pais os filhos viam o exemplo de cristos santos. Amigos da orao, todas as manhs se reuniam aos ps do altar e mesa eucarstica. Rigorosamente observavam a lei do jejum e da abstinncia, eram escrupulosos na santificao do domingo, faziam com assiduidade as prticas de piedade, como a leitura espiritual e a orao em comum. No faltavam, certamente, provocaes, mas a nica resposta que davam a Deus, era sempre uma total resignao a tudo que a alta Providncia quisesse determinar. Embora houvesse certo bem-estar na famlia Martin, ningum se excedia em luxos desnecessrios, e em tudo reinava grande simplicidade. Em famlia de sentimentos to cristos e generosos, a virtude da caridade achava terreno mais amplo de atividade. Das economias o piedoso casal reservava anualmente avultosa quantia para a Obra da Propagao da F. A casa estava-lhes sempre aberta para os pobres, e grandes eram as esmolas que l recebiam. Na distribuio da caridade o Sr. Martin no conhecia o respeito humano, e muitos so os casos em que com as prprias mos servia a pobres desamparados. No , pois, caso de estranhar que o nobre homem em suas empresas se visse acompanhado da beno de Deus. Foi em Alenon, na rua So Brs, que nasceu a celeste florzinha, Santa Teresa do Menino Jesus, geralmente conhecida pelo nome que o povo cristo lhe deu Santa Teresinha. s 11 horas e meia da noite de 2 de janeiro Teresa abria os olhos para este mundo. No dia do nascimento da rainhazinha, (assim o extremoso pai chamava sua filhinha) veio um pobre bater porta da ditosa famlia e entregar um papel com estas loas, que mais pareciam uma profecia: Sorri, cresce depressinha, Tudo te chama ventura: Amor, desvelos ternura... Sorri flgida Aurora, Boto que nasceste agora, Rosa mais tarde sers ! Aos 4 de janeiro a graciosa menina foi levada ao batismo, onde recebeu o nome de Maria Francisca Teresa, servindo-lhe de madrinha a irm mais velha, Maria Lusa. Teresa contava apenas quatro anos e meio, quando a morte lhe arrebatou a querida me. Foi ento que o Sr. Martin resolveu mudar a residncia para Lisieux, onde morava o cunhado Gurin, cuja esposa velaria pela educao das rfsinhas. Pelo belssimo exemplo que Teresinha tinha constantemente diante dos olhos, bem cedo se acostumou prtica das virtudes, e decerto a expresso da verdade o que afirma a autobiografia: que desde a idade de 3 anos nunca recusou coisa alguma a Deus. Dotada de inteligncia superior, treinada pelas experincias colhidas no caminho da provao e da dor, a menina, em bem poucos anos, chegou a demonstrar uma madureza admirvel em julgar as coisas divinas e humanas. A esta firmeza de carter, ao conhecimento profundo das coisas divinas, ao desejo de pertencer a Deus deve-se atribuir o fato de , com 15 anos apenas, se ter resolvido a entrar na Ordem do Carmelo, cuja regra uma das mais austeras. Em sua Histria de uma alma, escrita por ordem da superiora, Madre Ins de Jesus, a nossa santa, com uma simplicidade encantadora, narra os fatos principais que se ligam sua vida junto aos pais, no seio da famlia, a entrada na Ordem, descreve as dificuldades de ordem material e espiritual, consolaes que teve e graas extraordinrias que recebeu do divino Esposo. Dos fatos narrados na Histria de uma alma , tenham aqui lugar s os mais notveis. Teresinha, bem pequenina ainda, fez a primeira confisso e saiu do confessionrio muito satisfeita, achando que nunca at ento tinha experimentado uma alegria igual. Certo dia teve uma viso um tanto proftica, que muito a impressionou. Estando o pai em viagem, que por longo tempo o afastava da famlia, Terezinha teve a impresso de ver diante de si um homem alquebrado, de cabea encanecida, e embuada em vu espesso. Tudo daquele homem, o traje, o andar, a figura, tudo lhe fazia crer que fosse o pai querido. Tomada de estranho terror, chamou por ele com voz trmula: Papai, papai ! Mas o personagem assim interpelado no dava sinais de ter ouvido estas palavras e continuou a andar, afastando-se pelas alamedas do jardim. Teresinha nunca mais perdeu de memria esta misteriosa viso, pressgios de futuros padecimentos, de que o pai seria vtima. O sr. Martin pelo fim da vida sofreu diversos ataques de paralisia, que lhe comprometeram a luz do esprito, de tal modo que durante trs anos, foi preciso ser entregue aos cuidado de pessoas estranhas. Terezinha tinha oito anos e meio, quando se matriculou como externa no colgio das religiosas beneditinas, em Lisieux. Embora muito mais nova que as companheiras de classe, tirava as melhores notas em composio, e era muito querida entre as religiosas, razes estas que no poucas humilhaes lhe importavam, da parte de alunas menos consideradas e menos inteligentes. Foi neste espao de tempo que na mente de Teresinha surgiu o primeiro pressentimento de ser por Deus chamada a abraar o estado religioso no Carmelo. Esse pressentimento tomou feies de desejo em 1885, quando a prima e amiga Maria Gurin entrou para o Carmelo de Lisieux. No retiro que a irm Celina fazia, em preparao para a primeira Comunho, Teresa a acompanhou e experimentou as mais suaves impresses. O dia da primeira Comunho considera-o um dos mais belos da vida. Comparando-se com as irms, Teresa se reconhece menos afeita aos brinquedos prprios da idade infantil, porm mais sensvel e choraminga at o excesso. Na famlia reinava sempre a mais perfeita harmonia e entre as irms e as primas havia o maior entendimento, a mais franca cordialidade. Tereza era sempre fraquinha e dores de cabea atrozes atormentavam-na por dias, semanas e meses, acompanhadas s vezes, por estranhos temores. Por vezes caa em delrio, sem entretanto perder o uso da razo. Vinham desmaios, que lhe tolhiam o mais leve movimento. O leito parecia-lhe rodeado de demnios e de precipcios horrveis. Os pregos cravados nas paredes do quarto tinham-lhe aos olhos a forma de dedos enormes pretos e carbonizados, cuja vista lhe provocava gritos de horror. Em to tristes lances se via como sempre, rodeada do mais afetuoso carinho do pai e das irms e parentes. Desta doena, que resistia a todos os recursos da cincia mdica, a santa menina se viu curada por Maria Santssima. Celina, vendo baldados todos os esforos para conservar a vida da querida irm, invocou, com todo o fervor de me que suplica, a Maria santssima, representada numa esttua que a famlia Martin tinha em muita venerao. A esttua, a mesma que se vivificava aos olhos da me de Teresa, animou-se de sbito tambm na presena desta: A Virgem Santssima adiantou-se para mim e sorriu... Celina, ao v-la fitar os olhos na esttua disse de si para si: Teresa est curada . De fato estava. No momento em que a irm dizia isto consigo, o rosto de Teresa tornara-se difano e estava transfigurado. A fisionomia denunciava-lhe algo de sobrenatural. As pessoas presentes a esta cena sentiram-se tomadas de pasmo e admirao. No havia dvida que Teresa em xtase vira Maria Santssima. Restabelecida do terrvel mal que a acometera e quase a levara s portas da eternidade, o pai proporcionou-lhe o grande prazer de um passeio agradabilssimo, ocasio em que comeou a conhecer o mundo. Via-se ento muito festejada; admirada por todos, sem entretanto compreender o motivo de tantas atenes. Embora no fosse insensvel s carcias de pessoas amigas, bem cedo chegou concluso de que tudo vaidade, exceto amar e servir a Deus. Pessoas da intimidade, por exemplo as mestras, notaram em Teresa grande inclinao orao mental. A menina meditava de fato, sem contudo dar conta de tal e chamava a isto pensar. Fez a primeira Comunho nas melhores disposies. Trs meses empregou na preparao. Ela mesma confessa ser-lhe impossvel contar as impresses que teve, no momento de receber a sagrada Hstia. Meu encontro com Jesus naquele dia no podia ser apenas um simples olhar, mas era sim uma fuso. J no ramos dois. Teresa desaparecera, como a gota dgua que se abisma no seio do oceano. Restava s Jesus e era o Senhor, o Rei ! Pouco tempo depois da primeira Comunho recebeu o sacramento da Confirmao, em preparao do qual fez novo retiro. O ideal de ser religiosa Carmelita desenhava-se cada vez mais ntido, na alma da piedosa donzela. Obter o consentimento do pai e das irms e pedir admisso na Ordem no era to fcil como a princpio se lhe afigurava. Mas o tio era de parecer contrrio. No s declarou contrrio idia, mais ainda acrescentou que se havia de opor execuo de tal plano, caso no houvesse a interveno de um milagre. Poucos meses depois, porm, deixou de lado a sua resistncia e deu seu consentimento. Vai em paz, querida filhinha, - disse-lhe, abraando-a paternalmente s uma florzinha privilegiada, que o Senhor quer para si e a isto no me hei de opor. Levantou-se, entretanto, outra dificuldade, e era de natureza muito sria, mesmo insuportvel: a recusa formal do Superior do Carmelo de receber na Ordem uma donzela de quinze anos. Idntica foi a deciso do Bispo de Bayeux, se bem que este muito comovido pela insistncia com que Teresa apresentou o pedido, secundado pelas afirmaes do pai, no lhe cortasse o fio da esperana, prometendo-lhe falar com o Superior a respeito e responder-lhe ento. Em 7 de novembro de 1887 organizou-se em Paris uma peregrinao a Roma, na qual tomaram parte o sr. Martin com suas filhas Teresa e Celina. Estava tambm entre os peregrinos o Padre Revrony, Vigrio geral de Bayeux, de quem Teresa diz que a observava diligentemente, em toda a viagem. Chegados Roma, s em 20 de novembro tiveram a ventura de serem recebidos em audincia no Vaticano. A Santa mesma conta-nos, com toda a minudncia, o histrico dessa audincia. Na manh de domingo ( 20 de novembro) fomos ao Vaticano. s 8 horas assistimos Missa do Sumo Pontfice. Acabada a Missa de ao de graas, que se seguiu do Santo Padre, principiou a audincia. Leo XIII estava assentado na poltrona, em trono elevado, vestido de batina branca e mura da mesma cor. Ladeavam-no diversos Prelados e as mais altas dignidades eclesisticas. Conforme as prescries do cerimonial, cada um dos peregrinos ia por sua vez ajoelhar-se, beijar primeiro o p e logo a mo do augusto Pontfice e receber-lhe a beno; em seguida dois guardas nobres, tocando-o de leve, com o dedo, significavam-lhe que se levantasse para passar outra sala ceder o lugar ao seguinte. Ningum tugia, mas eu estava resolvidssima a falar, quando o Revmo. Pe. Revrony, que se pusera direita de Sua Santidade, nos fez saber publicamente que proibia terminantemente que se falasse ao Santo Padre. Voltei-me para Celina, a interrog-la com o olhar; entretanto dava-me o corao pancadas de faz-lo estalar. - Fala ! disse-me ela. Momentos depois estava eu ajoelhada diante do Papa. Beijei-lhe o p e apresentou-me a mo. Levantando ento para ele os olhos cheios de gua, dirigir-lhe esta splica: - Santssimo Padre, desejo pedir-vos uma graa importante ! Inclinou logo a fronte at junto do meu rosto; como se os seus olhos pretos e profundos quisessem penetrar at o mago de minha alma. - Santssimo Padre insisti em memria do vosso jubileu, autorizai-me a entrar no Carmelo aos quinze anos ! O Revmo. Vigrio Geral de Bayeux, estupefato e descontente, atalhou imediatamente: - Santssimo Padre, uma criana que deseja abraar a vida do Carmelo, mas os Superiores esto atualmente examinando o caso. - Pois bem, minha filha disse ento Sua Santidade esteja pelo que decidirem os superiores. De mos postas, e encostadas aos seus joelhos, fiz esta ltima tentativa: - Santssimo Padre, s dignar-vos de responder-me sim, para concordarem todos ! Olhou-me fixamente e proferiu estas palavras, martelando cada slaba, em tom de voz penetrante: - Pois no... vamos... entrar, se assim aprouver Deus. Ia eu insistir ainda, quando se aproximaram dois guardas nobres, acenando que me levantasse. Ao verem que no bastava este aviso, travaram-me dos braos e o Revmo. Padre Revrony veio tambm os ajudar a erguer-me, visto como ainda me deixava ficar queda, de mos postas e apoiadas nos joelhos do Papa. No momento em que era assim removida, o bom do Santo Padre ps suavemente a mo sobre os meus lbios e ergueu-os logo depois para abenoar e pr largo espao de tempo esteve me acompanhando com o olhar . - - - - - - - - - - - - - Tornados a Lisieux, a primeira visita foi ao Carmelo. Um novo requerimento que Teresa fez ao Prelado diocesano, no teve pronto despacho, como desejava e esperava. Passou-se o Natal do ano de 1887, sem obter resposta alguma. O dia 1 de janeiro de 1888 tirou-a afinal da incerteza. Foi nesse dia que a Madre Maria de Gonzaga lhe comunicou ter recebido autorizao do Bispo para recebe-la imediatamente, como postulante no Carmelo. Na carta a Superiora acrescentava que s depois da quaresma a entrada se poderia efetuar. O dia 9 de abril de 1888 trouxe-lhe afinal a ventura da entrada no Carmelo. Desde o comeo da vida religiosa no claustro, pode Teresa experimentar as provaes com que Nosso Senhor costuma mimosear seus prediletos. Uma aridez espiritual parecia ser-lhe o po quotidiano, e a Madre Superiora introduziu-a logo nas prticas costumeiras do Carmelo, tratando-a sempre com extraordinria severidade, no lhe perdoando a mnima falta que cometesse. Destarte Teresa bem cedo se habituou a considerar na Superiora no a criatura, mas a pessoa de Nosso Senhor, ficando assim preservada de afeies humanas no claustro, que sempre que as houver, so uma verdadeira calamidade. Extraordinria e mui significativa a declarao que Teresa fez, no exame do cannico que lhe precedeu a profisso, dizendo: Vim para salvar as almas e especialmente para rezar pelos sacerdotes . Fiel a este propsito ofereceu-se a Jesus como vtima, convencida que s pelo sofrimento poderia fazer algum bem s almas. Durante cinco anos realizou esta prtica, sem que pessoa alguma soubesse. Em 10 de janeiro de 1889 recebeu o hbito, cerimnia a que presidiu o Bispo Diocesano, e que se revestiu de grande solenidade, estando presentes as irms de Teresa. Acompanhada pelo pai, entrou solenemente na capela. Para o sr. Martin foi um triunfo e tambm sua ltima festa no mundo, pois um ms depois foi acometido de grave doena que o levou sepultura seis anos depois. O tempo do noviciado passou clebre, entre as prticas de piedade, de virtude e mortificao, sem que houvesse ocorrido fato de maior relevncia. Decorrido um ano, passou pela decepo de no poder professar, Declaro-lhe a Superiora que, devido oposio formal do Revmo. Padre Superior, havia de esperar mais oito meses. A prpria Santa confessa que a princpio he custou aceitar tamanho sacrifcio, mas, ajudada pela graa divina, conformou-se inteiramente com a deciso de quem fazia s vezes de Jesus. Passado o tempo da provao, ficou marcado o dia 8 de setembro de 1890 para a profisso religiosa. Horas antes da profisso religiosa, recebeu de Roma a beno do Santo Padre, fato que muito consolou, tendo durante o retiro espiritual experimentado a mais completa aridez. Permitiu Deus que sua serva, no dia que precedia a profisso, fosse horrivelmente perturbada por tentaes a respeito da vocao. A minha vocao assim escreve afigurou-se-me de improviso, simples sonho e quimera; o demnio pois era ele mesmo inspirava-me a convico de que a vida do Carmelo no me convinha por forma alguma e que enganava os Superiores, metendo-me por um caminho ou instituto de vida para o qual no fora chamada. To densas se amontoaram estas trevas, que cheguei a persuadir-me duma coisa nica: no tenho vocao religiosa, devia voltar ao mundo. Foram angstias indescritveis e para dissip-las Teresa foi ter-se com a mestra e manifestou-lhe a tentao. Foi o bastante para lhe voltar a calma e o sossego. Se procurarmos saber que meios Santa Teresa empregou para chegar a to alto grau de perfeio, que a igreja e com esta todos os fiis lhe admiram, descobriremos trs: - a orao, a vida unida a Nosso Senhor, a mortificao e o amor a Deus. O esprito de sacrifcio era-lhe universal. Tudo quanto havia de mais penoso e menos agradvel, por isso mesmo o procurava com sofreguido. Tudo o que Deus lhe pedia, dava-lho sem reserva. O que mais a martirizou fisicamente, como confessa, foi a privao do fogo durante o inverno. O frio tem sido para mim um tormento de morte. Na Sexta-feira Santa (3 de abril de 1896) apareceram os primeiros anncios da chegada do Esposo. Freqentes eram as hemoptises que lhe sobrevinham, mas a Santa sabia habilmente as disfarar, tanto que s em maio de 1897 as irms souberam do verdadeiro estado de sua sade. Em julho do mesmo ano foi preciso transferi-la definitivamente para a enfermaria. Os ltimos meses foram de sofrimentos incalculveis, causados por um desnimo que o demnio lhe preparava, atormentando-a com tentaes contra o amor de Deus. Tens certeza dizia-lhe a voz maldita de ser realmente amada por Deus? Quando em 30 de julho recebeu a Extrema-Uno, disse jubilosa, s irms: A porta da minha escura priso est entreaberta; estou radiante, principalmente depois que o nosso Padre Superior me assegurou que minha alma se assemelha hoje de uma criancinha recm-batizada. Desde o dia 16 de agosto at 30 de setembro as freqentes hemoptises no lhe permitiam receber a santa Comunho, sacrifcio este que de todos lhe era em extremo sensvel. So dos ltimos dias de sua existncia estas memorveis palavras: Nunca dei a Deus seno amor e com amor tambm me h de recompensar. Depois da minha morte farei cair uma chuva de rosas. Sinto que est chegando a hora de desempenhar a minha misso a de fazer amar a Nosso Senhor como o amo...de dar a conhecer a minha veredazinha s almas. Quero passar o meu cu empenhada em fazer bem na terra. Muitas coisas edificantes disse ainda Santa Teresa s Irms, nos ltimos dias de doena. Entretanto, a dor aumentava de dia para dia. A fraqueza chegou a tais extremos, que a doente sem auxlio no podia fazer o mais leve movimento. Causava-lhe aflio horrvel falar perto de si. A febre martirazava-a de tal maneira, que s com grande esforo podia pronunciar uma palavra. Mas no meio de todo este sofrimento, um leve sorriso lhe aflorava aos lbios. Chegou, afinal, o dia 30 de setembro, o dia de sua santa morte. Estreitando o crucifixo nas mos, parecia absorta em profunda meditao. Quando o sino do Mosteiro tocou as Ave-Marias vespertinas, fixou na Virgem Imaculada um olhar inexprimvel. Cobria-lhe o rosto um suor copioso: tremia. s sete horas e poucos minutos perguntou Madre Priora: - Minha Madre, no ser talvez a agonia? No estou nas ltimas? - Pois no, minha filha, a agonia; mas Jesus quer prolong-la talvez algumas horas. E ela, muito resignada: - Pois bem... vamos... vamos... oh ! no quisera que se me abreviassem os sofrimentos... E olhando para o crucifixo: - Oh !... Amo-o !... Meus Deus, eu vos... amo ! Foram estas suas ltimas palavras; pronunciando-as deixou-se cair sobre o leito, numa atitude semelhante de algumas virgens mrtires, que se dispunham a receber o ltimo golpe. De repente, se ergueu, como se fosse para atender a uma voz misteriosa, abriu os olhos, e fitou-os com uma expresso de jubilo indizvel, um pouco acima da imagem de Nossa Senhora. Isso durou mais ou menos a recitao de um credo e sua alma voou para os pramos celestes. Logo depois da morte de Teresinha, comearam a dar-se na comunidade fatos extraordinrios. Verificou-se a profecia da Santa, que disse: Depois da minha morte farei cair uma chuva de rosas. O mundo catlico encheu-se de admirao pela santidade da humilde carmelita de Lisieux, e Deus glorificou-a, fazendo-a benfeitora da humanidade, como provam os milagres, que apareceram s centenas. Treze anos depois da morte, procedeu-se-lhe exumao do corpo e nesta ocasio foi encontrada intacta e verde a palma que as religiosas lhe tinham posto na mo, logo aps a morte. Beatificada em 1923, S.S. o Papa Pio XI, no ano do jubileu de 1925, lhe deu a honra dos altares. As relquias, depositadas na capela do Mosteiro do Carmelo em Lisieux, repousam numa riqussima urna de prata dourada, oferecida pelos catlicos do Brasil. R E F L E X E S O segredo da santidade de Teresa do Menino Jesus est na perfeita harmonia das virtudes que lhe adornam a alma e a tornaram to agradvel aos olhos de Deus. So: a humildade e a simplicidade, abnegao de si prpria, levada at o herosmo, o esprito de sacrifcio, um amor sem limites a Nosso Senhor e uma confiana sem reserva em Deus. Como no h nada de extraordinrio na vida desta santa carmelita, seu exemplo perfeitamente imitvel por todos que seriamente querem a salvao de sua alma. Basta imitar-lhe as virtudes, invocar-lhe a poderosa intercesso. O Esprito Santo, que rege a Igreja de Deus sobre a terra, reservou esta mimosa flor do cu para os nossos tempos, to pobres de amor e to saturados de misria. Graas lhe rendemos por ter dado aos filhos um exemplo to perfeito de virtudes e santidade, que mostra humildade o pequeno caminho da santificao. Benfeitora que dos pobres mortais, que se lhe dirigem nas necessidades materiais e espirituais; padroeira dos missionrios que trabalham nas linhas mais avanadas da milcia de Cristo, na terra dos pagos a Igreja Catlica, reverente, curva-se diante desta filha privilegiada, que tanto j fez e mais ainda far, para implantar o reino de Cristo nos coraes dos homens. Santa Teresinha do Menino Jesus Doutora da Igreja, proclamada pelo Papa Joo Paulo II em 19 de outubro de 1987. Orao Senhor, que dissestes: Se no vos fizerdes como meninos, no entrareis no reino dos cus fazei-nos seguir a Santa Virgem Teresa em humildade e simplicidade do corao, para que consigamos alcanar os prmios da vida eterna. (** <= Volta ao texto) Irm mais velha de Zlia, que entrou no Mosteiro da Visitao de Mans, com o nome de Soror Maria Dorotia e que em 1877 morreu santamente, com a idade de 48 anos. * * * * * * * * * Referncia bibliogrfica: Na luz Perptua, 5. ed., Pe. Joo Batista Lehmann, Editora Lar Catlico - Juiz de Fora - Minas Gerais, 1959.
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