Comemoração Litúrgica: 12 de janeiro. Também nesta data - Santos: Arcádio, Ernesto, Modesto, Bernardo e Taciana
Cartago é o berço deste impertérrito defensor da
fé católica. Fulgêncio era filho de pais
cristãos. Tendo perdido cedo o pai, a mãe cuidou de dar
ao filho uma educação de acordo com as normas da
religião. Não só seus belos talentos, como a
modéstia, a docilidade, o grande respeito que mostrava para com
a mãe, fizeram com que fosse estimado por todos. Apesar de
vantajosas colocações que se lhe ofereceram,
Fulgêncio, para fugir dos perigos do mundo, resolveu entrar num
convento. A leitura de um sermão de Santo Agostinho sobre a
vaidade do mundo e a brevidade da vida, levou-o a pôr em
execução esse plano, sem demora. Dirigiu-se ao bispo
Fausto, que era superior de um convento em Byzacene. Este não
quis aceitar, receando que uma pessoa nas condições de
Fulgêncio não se pudesse ajeitar com a vida austera do
convento. Fulgêncio respondeu-lhe com humildade: “Aquele
que me inspirou a vontade de servi-lhe, poderá dar-me
força de vencer a minha fraqueza”. Fausto, admirado desta
resposta tão criteriosa, admitiu-o. Logo, porém, que a
mãe soube da resolução do filho, e da sua entrada
para vida religiosa, correu ao convento e com ímpeto e grande
pranto, exigiu a volta de Fulgêncio. Este, porém, venceu a
tentação e ficou firme na vocação. O amor
de Deus fê-lo vencer a voz da natureza. Entregou os bens à
mãe, para que os administrasse, até que o irmão
mais novo pudesse assumir esta responsabilidade.
A vida de Fulgêncio no convento foi a de um religioso modelo. De
todos o mais humilde e obediente, ninguém como ele se
penitenciava.
A perseguição do rei vândalo Hunerico obrigou-o a
abandonar o convento e procurar agasalho em outra parte. Nas suas
viagens, chegou à Sicília e Roma. Passados dois anos,
voltou para a África. Nesta posição, em nada o fez
mudar nos seus hábitos religiosos. As práticas de
piedade, as obras de mortificação e penitência
continuaram-lhe fiéis companheiras até à morte.
Como Bispo, defendeu a fé contra os erros do arianismo, e
exortou os fiéis à perseverança na verdadeira
religião. Grande abalo sofreu sua administração
episcopal pela perseguição do rei vândalo
Trasamundo, que o obrigou a comer o pão do exílio, em
companhia de outros Bispos católicos. Na Sardenha, para onde
foram desterrados, viveram em santa comunidade, até que a morte
do tirano lhes permitiu o regresso para a pátria. Neste
ínterim, Fulgêncio escreveu diversos tratados contra a
heresia ariana. Recepção carinhosa esperou os Pastores
exilados, na sua volta a Cartago. São Fulgêncio dedicou-se
então, de corpo e alma, à reorganização da
diocese, na qual, durante a sua ausência, se tinham dado diversas
irregularidades. Com brandura e firmeza procurou abolir abusos e
restabelecer a ordem, onde as circunstâncias o exigiam.
As virtudes que mais caracterizaram a vida deste santo Bispo, foram a
humildade, a mansidão e a paciência. Nunca se lhe ouviu da
boca uma palavra que revelasse egoísmo, nunca lhe escapou uma
expressão que pudesse melindrar, entristecer ou ofender o
próximo. Não cedia aos impulsos da impaciência, por
mais difícil que fosse vencê-la. Tinha por lema
sujeitar-se sempre à vontade de Deus, nos lances mais duros da
vida. A sua caridade para com o próximo parecia não ter
limites. O vivo interesse que tomava pelo bem-estar
material e espiritual dos súditos, garantia-lhe a simpatia e o
amor de todos.
Sentindo a proximidade da morte, Fulgêncio retirou-se para um
pequeno convento, na ilha Circina. Esta ausência foi muito
sentida pelos diocesanos que, com insistência, lhe reclamaram o
regresso. Tinha os dias contados. Uma doença grave e
dolorosíssima preparou-lhe o caminho para o túmulo.
Modelo de todas as virtudes, na sua doença de morte o santo
Bispo edificou a todos, pela paciência e
resignação. Tendo chegado a hora extrema, mandou reunir
todos os sacerdotes, e exortou-os novamente à
perseverança na fé verdadeira e ao zelo no serviço
de Deus. Pediu perdão a todos que tivesse ofendido ou magoado;
mandou distribuir entre os pobres os poucos bens que lhe tinham ficado
e entregou a alma ao Criador. Fulgêncio morreu com 65 anos de
idade e o corpo, contrariamente ao costume daquele tempo, foi sepultado
na Catedral, porque geral era a convicção de sua grande
santidade. Em 714 foram essas relíquias transportadas para
Bourges, na França. Reflexões: 1.
Humildade, paciência e mansidão são na verdade três virtudes
admiráveis. São Fulgêncio, seguindo o exemplo do divino Mestre,
praticou-as na maior perfeição. Como as praticas tu?
Se te exaltas sobre os outros, se falas constantemente dos teus
merecimentos, se procuras, com muito afã, que os outros te elogiem, se
ambicionas honras e dignidades do mundo, onde está a humildade? – Se
tratas com aspereza ao próximo, se o injurias e difamas, se o ofendes
com vis calúnias e indignas maledicências – onde está então a
mansidão? – Se, em vez de sofrer com resignação uma injustiça,
que te foi feita; se em vez de levar tua cruz com conformidade à
vontade de Deus, contra ela te levantas e prorrompes em altas queixas e
murmurações – onde está a paciência? – Seja tua resolução
para o futuro: De hoje em diante não me exaltarei contra o próximo.
Nada direi para me enaltecer e gloriar, nem procurarei o elogio dos
homens. Tratarei ao próximo com respeito e caridade, nunca com aspereza
e injustiça. Na dor e no sofrimento, quer corporal, quer espiritual,
nenhum sinal de impaciência hei de dar, mas pedirei a Deus, que me dê
a graça de sofrer com paciência e santa resignação. 2.
Deus não nos revela a hora da nossa morte. Por que não? “Para
que não tomemos liberdade no pecar e não relaxemos na prática de boas
obras”. (Santo Atanásio). Vontade de Deus é que estejamos sempre
preparados para comparecer em sua vossas mãos. Sede semelhantes aos
servos, que esperam a seu Senhor, ao voltar das bodas, para que, quando
vier e bater à porta, logo lhe abram”. (Lc.
12, 35,
36): “Se o pai de família soubesse a hora em que viria o ladrão,
vigiaria e não deixaria minar a sua casa. (ib.) “Vigiai, porque não
sabeis a hora, nem o dia”. (Mt. 25,
13). Prepara-te, pois, com toda prudência, para que, quando a
morte vier, te encontre vigilante. * * * * * * * * * TÓPICOS RELACIONADOS
Referência bibliográfica: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico - Juiz de Fora - Minas Gerais, 1959. |