Comemorao  litrgica - 19 de setembro Tambm nesta data:  Nossa Senhora da Salete, Santa Constana e Santo Afonso de Orozco.   

 

                                                

                                                                     NA CATEDRAL  de Npoles celebrada hoje a grande festa com oitava, a que vem assistir milhares de fiis no s da cidade como da circunvizinhana e de toda a Itlia. A solenidade viva expresso da venerao e gratido ao grande Padroeiro So Janurio, cujas preciosas relquias se acham expostas em duas capelas da mesma Catedral. Em uma destas capelas conservado o corpo do Santo,  quando a outra repositrio de sua cabea e de duas ampolas de vidro com sangue do mrtir, recolhido por uma piedosa mulher logo depois da decapitao deste. Todos os anos, no dia de hoje, observado o milagre de So Janurio, que consiste na liquefao do sangue contido nas ampolas, no momento em que estas so aproximadas da cabea ou de qualquer  uma das relquias do Santo. Sobre o fato no pode haver a mnima dvida, pois tem sido presenciado por milhares de pessoas, e cientistas de diversos  credos  tm se ocupado deste fenmeno sem que dele tivessem achado uma explicao natural. Com sua proteo cresceu sempre o fervor da f, e anualmente a procisso que os napolitanos lhe fazem adquirem novo esplendor. 

                                                                      A cabea de So Janurio est encastoada num busto de ouro e prata, presente do rei Carlos II de Anjou,  e anualmente levada em procisso seguida tarde de outra que transporta a ampola do sangue miraculoso, procisso cujo trmo a igreja de Santa Clara

                                                                      So Janurio, provavelmente descendente dos nobres Janurios de Npoles, era Bispo de Benevento. Em sua vizinhana vivia o zeloso e santo dicono Ssio, a quem o ligavam laos de grande amizade e a quem muitas vezes visitava. Em uma das suas visitas a este santo homem, na ocasio dle pregar a Palavra de Deus, viu uma labareda de fogo descer sobre a cabea do pregador, fenmeno que Janurio considerou aviso do prximo martrio do seu amigo. No se enganou. Em 303 rompeu a ltima e a mais cruel perseguio contra a Igreja, sendo Dioclesiano imperador.  Dracncio, governador de Campanha,  cumprindo ordem imperial, exigiu de Ssio, que prestasse homenagens s divindades nacionais. Como este se negasse, foi desumanamente espancado e fechado no crcere de Puzzuoli. A mesma sorte tiveram diversos cristos. Mal soube Janurio o que tinha acontecido ao seu amigo, foi visit-lo a ele e a seus companheiros de priso, e animou-os com sua palavra de amigo e bispo.

                                                                      Aconteceu que Dracnio fosse removido e em seu lugar viesse Timteo, inimigo implacvel do nome cristo. Uma das suas primeiras determinaes na campanha anticrist, foi o aprisionamento de Janurio, de quem foi exigida a apostasia da f pela homenagem que havia de prestar aos deuses.  Janurio, em vez de obedecer a esta ordem, fez profisso solene e pblica de sua f em Jesus Cristo e sua santa Igreja. Imediatamente veio a ordem do governador, para que fosse lanado em uma fornalha ardente. Deus, porm, protegeu o seu filho e fiel servo. O fogo, em vez de atacar e consumir a inocente vtima, veio com mpeto sobre os carrascos e os feriu gravemente. Trs dias teve que passar dentro da fornalha, para depois ser novamente encarcerado e barbaramente espancado.  Dois clrigos,  Festo e Desidrio,  foram visitar seu bispo, e quando o viram to mal tratado, deram expresso sua indignao e dor, e altamente protestaram contra os processos desumanos aplicados contra um homem to bom, "que era a caridade em pessoa, o consolador dos aflitos e o amigo de todos os que sofriam, e a ele nas suas mgoas e necessidades se dirigiam".  Resultado foi que tambm foram presos e, juntos com Janurio, levados presena do governador.  "Quem so estes homens?", indagou este com voz de trovo.  "Um meu dicono e outro meu leitor", respondeu plcidamente Janurio. "So Cristos?"  Janurio: "So, e espero que no negaro Nosso Senhor Jesus Cristo",   _ "Isso nunca",  exclamaram ao mesmo tempo os dois, somos cristos e prontos para dar a vida por Cristo".

                                                                      Timteo nada respondeu:  Disfarou seu dio, mas deu ordem para que fossem metidos em ferros e diante do seu carro levados a Puzzuoli, onde o crcere os recebeu. 

                                                                      Longe de se lastimar, os santos homens se felicitaram mutuamente por se acharem em caminho para o martrio, e pedriam a Deus a graa da perseverana. J no dia seguinte foram transportados para o anfiteatro. L os esperava o governador e muito povo, vidos de assistir cena de animais feroses e famintos se atirarem sobre as inermes vtimas.  Os sete jovens cristos,  tambm Janurio, j no contavam com mais de quarenta anos, se ajoelharam no meio da arena, com os olhos elevados ao cu. Mal se abriram as jaulas, os lees com rugidos formidveis se precipitaram sobre os sete homens. Mas, que maravilha! Como contidos e domados por mos invisveis, se deitaram aos ps dos confessores,  sem lhe causarem mal algum. O povo, diante deste milagre, no se conteve e em altos brados felicitou-os.  Timteo, porm perturbado e humilhado, deu ordem de decapitao imediata.  Outro fato maravilhoso acompanhou tambm  esta ordem desumana. No mesmo momento em que proferiu a sentena de morte sobre Janurio e seus companheiros, ficou cego.  Em sua confuso e aflio suprema, recorreu prpria vtima, a Janurio, suplicando que o socorresse. O santo bispo rezou sobre ele, fez o sinal da cruz sobre os olhos amortecidos, e estes, se abriram completamente curados.  No obstante, o monstro manteve a ordem da morte;  talvez por medo do imperador enfurecio ou, pelo fato de quase cinco mil pessoas presentes no anfiteatro,  alm de aclamarem os cristos, se terem declarado a favor da f crist.  Os corpos dos mrtires foram retirados pelos cristos e com todas as honras sepultados.

                                                                      Sete anos depois,  quando pela converso do imperador Constantino,  houve grande mudana na poltica romana, os Beneventinos retiraram as relquias de seus sacerdotes Festo e Desidrio;  as de So Janurio,  porm, ficaram em Npoles. Diversas tentativas de obterem esta preciosidade, no tiveram resultado.  Em 825 o prncipe Sico de Benevento, quando com forte exrcito veio assediar Npoles, se apoderou do corpo do santo Mrtir que,  como em triunfo, foi transladado para Benevento. A cabea e as ampolas com o sangue ficaram em Npoles. S em 1480 o imperador Fernando de Npoles recuperou as santas relquias para a cidade.      

REFLEXES

Os Judeus olhavam com horror os cadveres, mas os cristos consideravam-nos preciosos, porque eles foram habitao do Esprito Santo (1 Cor 3 - 6) e so como uma semente, donde germinar um corpo glorioso no dia da ressurreio (1 Cor 15 - 42).  Veneramos as relquias dos santos para adorar Aquele em quem e por quem eles morreram (S. Jernimo). O prprio Deus honra as relquias, porque se serve delas para operar milagres. 

J os hebreus conservavam religiosamente as relquias. Moiss levou do Egito o corpo de Jos. (Ex 13-19). Os cristos imitaram-lhe o exemplo. Os tmulos dos mrtires foram, desde a mais alta antiguidade, os stios onde se encontram igrejas e altares para ali celebrar o Santo Sacrifcio da Missa. A Igreja conserva as relquias em preciosos relicrios e adorna-os com flores e pedras preciosas. 

O culto das relquias obtem-nos de Deus inmeros benefcios. (Conclio de Trento 25). As relquias so fontes de salvao, donde correm para ns benefcios divinos. A vontade de Deus fez brotar uma nascente da penha do deserto. (Ex 16), e fez brotar tambm das relquias dos Santos, nascentes de bnos.  Os corpos dos santos e os tmulos dos mrtires afastam as insdias do demnio e obtm muitas vezes a cura das doenas mais refratrias. A venerao dos corpos dos mortos serve, pois, para restituir a sade aos corpos dos vivos. evidente que o milagre no produzido materialmente pelas relquias, mas pela vontade de Deus.  No h, pois superstio alguma na venerao que o povo cristo tributa s santas relquias. 

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* Referncias:  

Biografia e Reflexes - Na luz Perptua,  5.  ed., Pe. Joo Batista Lehmann, Editora Lar Catlico - Juiz de Fora - Minas  Gerais,  1959.

 

 

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