Dogma da Imaculada Conceio

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Em 08/12/2004 comemorou-se os 150 anos da proclamao do Dogma da Imaculada Conceio

 

 

 

                                                          Com as palavras Maria Concebida Sem Pecado confessamos, que Maria,  por uma exceo especial, em virtude dos  futuros merecimentos de cristo, desde o primeiro instante de sua vida ficou isenta do pecado original e revestida foi da graa santificante. No assim com as outras  criaturas  humanas. Desde o princpio da nossa existncia, carecemos  da graa santificante, sendo que esta graa estatui um verdadeiro pecado, no pessoal, claro, mas um pecado da natureza, chamado pecado original por ser  uma conseqncia  do pecado dos primeiros  pais.

                                                         O mistrio da  Imaculada conceio, exclui o pecado,  isto , o pecado original e  conseqentemente duas coisas, inseparavelmente ligadas a este:  A desordenada concupiscncia e o pecado pessoal;  inclui, porm,  a  posse da graa santificante.  O que tem nome de pecado,  a  ausncia culpada da graa santificante. A presena desta significa a ausncia, a extino daquele.  Maria,  desde o princpio  era possuidora da graa  santificante e, junto com esta,  de todos os  bens que a acompanharam, isto num grau no comum, mas numa abundncia tal, que Santo nenhum at o fim de sua vida chegou a possu-la. Inerente a  este dom da graa  santificante se  achava outro privilgio, o da perseverana final. Tambm Eva possua inicialmente a  graa santificante;  perdeu-a, porm, pela transgresso do Mandamento de Deus. No assim Maria.  Na sua vida no houve um momento sequer, em  que se visse  privada da graa de Deus;  pelo contrrio:  esta lhe crescia de maneira to exuberante, que no podemos  dela  formar idia.

                                                          A alma, ou o corao de Maria no mistrio da Imaculada Conceio no comparvel a um recipiente, puro sim, e sem mcula, destitudo entretanto de qualquer  adorno;  antes se assemelha com um vaso riqussimo transbordando de todas as  espcies de  tesouros e preciosidades da ordem sobrenatural;   obra-prima, maravilhosa da terra e  do cu, da natureza e da  graa de  Deus e a  complacncia do divino artfice seu Criador. 

                                                          No como ns, pobres  filhos de  Eva, desfigurados pelo pecado, semelhantes a tristes espinheiros, crestados pelo sol, Maria pelo contrrio se ostenta bela,  luminosa, envolta em claridade  celestial, qual lrio purssimo, encanto dos Anjos e dos Santos do cu.  Como a aucena entre os espinhos, assim a minha amiga entre as  donzelas. (Cant.  2, 2)

                                                           O mistrio da Imaculada Conceio de suma importncia, sem restrio alguma, belo e glorioso.

                                                            uma glria para Deus, para a  Santssima  Trindade. O Pai a majestade, a suma do poder, a autoridade sem par, criadora, vivificadora, legisladora e  governadora.  Este poder, porm, consiste  no s em dar leis e aplicar castigos, como tambm em isentar da lei e  agraciar, quando e da maneira que lhe apraz. 

                                                          Cometido o primeiro pecado no Paraso, para todos os  filhos de Ado foi criada a lei da morte espiritual, da privao, da graa  santificante para o primeiro momento da vida, lei da qual isenta s ficou Maria, em ateno   sua misso excepcional e nica, sua futura vida, a nossa vida pela maternidade divina.   O Filho a  sabedoria e a Redeno. O sangue de Cristo o remdio contra a morte do pecado. Em Maria, porm, produziu um efeito extraordinrio. Em todos os  outros homens tira o pecado, extingue-o e restabelece o estado da graa.  Em Maria, porm, teve este efeito desde o princpio. A Imaculada Conceio , portanto, o fruto mais nobre e  grandioso da morte do Salvador, como tambm prova do grande amor de Jesus a sua Me.  O Esprito Santo a  bondade, o amor e a generosidade de  Deus em distribuir bens naturais e  sobrenaturais.  Na Imaculada Conceio este Divino Esprito manifesta uma bondade  inesgotvel, no s em ter adornado Maria de bens naturais  extraordinrios, como tambm, e principalmente em t-la enriquecido de dons e graas divinas.  Pelo curso normal o Esprito Santo d a graa santificante depois  do nascimento, no sacramento do batismo. Muito poucos so os que foram santificados, quando ainda no seio da me, assim So Joo Batista e talvez So Jos;  mas s Maria desde o primeiro momento da sua vida gozou deste privilgio. Todos os  demais, o Esprito Santo santifica num determinado grau:  Maria, porm, foi agraciada de uma maneira to abundante, que da plenitude das graas, a  Ela  dispensada, no se pode fazer idia. 

                                                          Desta forma o mistrio da Imaculada Conceio constitui uma glorificao da SS. Trindade. No menos glorioso e de suma importncia ele tambm para Maria. A Imaculada Conceio o fundamento da grandeza e magnificncia desta, em trs sentidos. Primeiro: o fundamento da sua santidade. A santidade consiste antes de tudo na iseno de todo o pecado, na posse  da graa santificante e das virtudes e dons concomitantes.  Preservada que foi do pecado original, Maria ficou livre tambm do pecado pessoal. Em sua Conceio recebeu uma harmonia tal de todas as energias fsicas e morais, um temperamento to particularmente eficientes, que em toda a sua vida nunca houve manifestao de concupiscncia; por isto pecado venial, nenhum, por mais leve que fosse, cometeu. esta a doutrina de Santo Agostinho e do Conclio de Trento. O tesouro da santidade da Me de Deus, sempre aumentando, cresceu a graus incalculveis, uma vez pelo afluxo de graas extraordinrias, como tambm pela sua fidelssima cooperao e as  circunstncias especiais da sua vida. Toda essa riqueza incomensurvel tem sua razo, seu fundamento na Imaculada Conceio.  Em segundo lugar este mistrio a condio preliminar e preparao adequada para a excelsa dignidade que Maria possua, de Me de Deus e Rainha do cu e da terra. Como o Salvador em sua tenra infncia poderia unir-se to estreitamente, e to intimamente descansar junto a um corao que, por um momento alis, tivesse  sido morada e domnio de Satans?   Como poderia ela, sua rainha,  se  apresentar aos coros dos Anjos, que nunca perderam a graa santificante, se pelo pecado tivesse sido escrava do demnio?

                                                           Na Imaculada Conceio, o poder de Maria Santssima tem o seu fundamento. Pureza, inocncia e santidade so valores por Deus muito apreciados, valores a que atribudo certo poder imperativo junto divina majestade. Com quanto mais razo deve-se isto afirmar da pureza de Maria que, nem por sombra de pecado sequer empanada, realmente o reflexo da luz eterna,  o espelho sem mcula, a imagem da divina bondade! (Sab 7, 26).  Numerosas, grandes e  admirveis so as prerrogativas deste ser abenoado: O nascimento virginal do Salvador, a integridade perfeita e a incorruptibilidade do corpo, a ressurreio e assuno antes do dia do juzo e da consumao dos sculos.  De todas estas excees a da Imaculada Conceio por Maria a mais apreciada. As demais prerrogativas necessrias, eram concedidas sob certas suposies, e sempre condicionalmente; mas o privilgio de por nenhum momento se achar sujeito ao pecado, este sob todos os pontos de vista, era necessrio, indispensvel. Ainda mais:  Diante da hiptese de poder escolher qualquer distino, a todas ela poderia renunciar, menos a da Imaculada conceio. Por isto, na  missa deste dia, a igreja pe nos lbios de Maria as  seguintes palavras:  Regozijar-me-ei no Senhor e minha alma exultar de alegria em meu Deus;  porque me revestiu com vestimenta de salvao, e me cobriu com o manto de  santidade, como uma esposa  com suas galas (Is. 61, 10) .  Louvar-vos-ei, Senhor,  porque me livrastes e no deixastes que meu inimigo zombasse de min. (Sal 29, 3)

                                                           O mistrio da Imaculada Conceio de suma importncia para ns, para a Igreja, para o mundo inteiro. Sua solene proclamao como dogma em 1854, foi um progresso, um novo elo na evoluo da nossa f. No este dogma uma  inveno da Igreja. Antiqssimo, fazia parte das verdades   reveladas, estava includo no depsito da f. At aquele  ano, o catlico tinha liberdade de crer ou no crer na Imaculada  Conceio;  podia rejeitar esta doutrina, sem incorrer numa heresia.  Houve de fato doutores da Igreja e Santos que no a aceitaram. Hoje o mundo inteiro est convencido da verdade do mistrio: A criana que sabe seu catecismo, pensa sobre esta doutrina com mais acerto que aqueles  grandes  telogos e espritos de escol e iluminados.

                                                          O mistrio e  sua elevao a  dogma a  confirmao de uma nova declarao da lei moral sobrenatural, que somos destinados uma vida sobrenatural;  que a graa -nos indispensvel para alcanar este  fim; que a perda culposa e  a falta de graa a essncia do pecado, e todos, com exceo de Maria, como filhos de Ado, estamos sujeitos ao pecado.  Tudo isto o dogma da Imaculada Conceio diz e ensina ao mundo materializado e mpio. Portanto, sua proclamao um solene protesto contra o racionalismo e materialismo;  a condenao destas  ideologias, que no querem saber da verdade e ordem sobrenaturais;  que rejeitam a doutrina sobre o pecado, a redeno e tudo que se eleva acima da vida material e  da observao sensitiva. Ao mesmo tempo,  apresentando Maria como ente perfeitssimo na ordem da graa, para ns animao poderosa a nos aproximar desta ordem, e a nossa vida ordenar segundo seus  princpios. 

Finalmente descobrimos no mistrio da Imaculada Conceio um penhor da graa e  da bno divinas para o mundo nosso contemporneo. Seus pecados so muitos e graves.  Basta apontar os seguintes:  Impiedade, dissoluo de costumes,  revolta contra Deus e a  autoridade legitimamente estabelecida, perseguio contra a Igreja. Um grande merecimento, entretanto, no lhe pode ser negado: o de ter aceito o dogma da Imaculada Conceio, e com esta homenagem ter adornado a  cabea de Nossa Senhora com uma coroa de incomparvel e indestrutvel valor. A Pobre humanidade  pode, portanto, esperar por uma resposta amvel e misericordiosa daquela que sua Me. Uma grande graa o mundo j experimentou, que pode ser considerada favor do cu e efeito da intercesso da Santssima Virgem. As circunstncias em que se realizou a proclamao dogmtica da Imaculada Conceio, j eram um preldio da dogmatizao da infalibilidade do Papa.  Quando Pio IX, a 8 de dezembro de  1854, na Baslica de So Pedro proclamava a bula da  Imaculada Conceio,  alguns bispos presentes exclamaram: isto a  infalibilidade do prprio Papa.    Tinham eles razo, porque o papa, sem ter assistncia de um Conclio, por sua prpria autoridade fez esta proclamao.  Poucos  anos depois o Conclio Vaticano elevou a Dogma a infalibilidade pessoal do papa. Desta maneira, Maria Santssima retribuiu honra com honra, e deu igreja o remdio mais necessrio para curar os males dos nossos dias.  

                                                         Assim, o mistrio da Imaculada Conceio projeta raios de luz em todas as  direes:  raios de glorificao a Deus, sobre a SS. Trindade, cuja essncia e bondade to admiravelmente revela;  raios de louvor e honra sobre Maria, cujas prerrogativas e  santidade to prestigiosamente desvenda;  raios de bno, de graas e de consolaes para o mundo, to necessitado de uma Me e poderosa protetora. 

                                                        Terminando esta meditao, trs resolues se nos impe:   Primeiro:  de  dar graas SS. Trindade por tudo que de grandioso e de bom no mistrio da Imaculada conceio operou para sua maior glria, em benefcio de Maria e para nosso proveito. Regozijemo-nos.  O grande sinal,  a  mulher vestida de sol, tendo a lua aos ps e a  coroa de estrelas cingindo a sua cabea, apareceu. O drago fugiu, voltando s trevas e ao  desespero. Graas  demos a Deus e,  a  Maria, apresentemos as  nossas felicitaes.  Realmente: Tota pulchra es Maria,  et macula originalis non es in te. -  Toda sois formosa, sem a mancha do pecado original.   Segundo:  De  a  Deus,  por Maria pedir Igreja, ao mundo inteiro e  a ns todos, advenham as  bnos que por este mistrio Deus intencionava espargir. Muitos benefcios j recebemos;  outros tantos esperamos que nos sejam feitos por intermdio da Virgem Me Imaculada.    Terceiro:  De  encher-nos de dio e repugnncia ao pecado e de venerao graa  santificante.

                                                         A Imaculada Conceio o mistrio da paz e  do perdo. O pecado original o menor entre os pecados graves de que podemos ser inculpados.   Mas nem este o Salvador  tolera. Quanto mais intimamente ele se liga a uma criatura humana, tanto mais longe dela deve o pecador ficar. Por isto, e completamente do pecado isentou sua Me.  Deve ser para ns forte incentivo de fugirmos do pecado, de dar todo valor graa e a conservar. Nossa honra, nossa riqueza, nossa formosura e nossa felicidade consistem unicamente na graa  santificante.

                                                        No mistrio da Imaculada Conceio encontramos o auxlio para adquirir esta graa e a conservar. para ns o penhor da esperana, da consolao, do conforto e  da vitria, como o tem sido para a humanidade desde o princpio da sua existncia. Virgem Imaculada recorramos, quando a tentao de ns se aproxima. Neste sinal, terrvel que para o inferno, e para ns prometedor, teremos a vitria final e a  salvao.

 REFLEXES

Por um privilgio especialssimo Maria Santssima ficou isenta da culpa original. A alma da Me foi criada no estado da graa santificante e  nesta permaneceu.  Graa  igual no recebeste. Concebido em pecado, em pecado nasceste. Mas Deus purificou tua alma, no sacramento do batismo. Milhares e milhares no tiveram esta graa. No cu no puderam entrar, porque nada de impuro l entra.  Por que te concedeu Deus, em sua infinita bondade, a graa do batismo? Quanta gratido deves, pois,  a Deus to bondoso, por te ter dado tamanha distino! O batismo, porm, somente a primeira graa que recebeste do Criador, para alcanares a vida eterna. Deve-se aliar-lhe uma vida santa, de perfeito acordo com os Mandamentos da Lei de Deus. Aquele que disse ser necessrio o batismo, o renascimento da gua e do Esprito Santo, disse tambm: Se vossa justia no for maior que a dos fariseus e dos escribas, no entrareis no reino dos cus!  (Santo Agostinho)

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Ttulos de Nossa Senhora 

* Referncias bibliogrficas:

- Na luz Perptua,  5.  ed., Pe. Joo Batista Lehmann, Editora Lar Catlico - Juiz de Fora - Minas  Gerais,  1959.